foto: Théo Gosselin



Você está em minha cabeça e eu brigo comigo por isso. Sou uma mulher que bebe vinho tinto sozinha depois das 21 horas. No domingo eu juro que vou te encharcar com a minha saliva.
Você me liga as três da tarde e diz que quer me ver. Escolho a lingerie e minto para mim quando digo que é possível manter meu coração fora disso.
Reticências me dão náusea, mas você as oferece para mim como se fosse um remédio; um antídoto de você. Estamos no underground dos sentimentos e eu finjo que ainda estou na porta que me leva à fuga. Nosso relacionamento é um bar com cerveja e teus cigarros preparados meia hora antes. Você é um jogador sujo e eu viciada no jogo.
Estamos por baixo e não onde deveríamos estar. Parece que eu já conheço o caminho, mas estou mentindo. Eu minto como você mente quando diz que não sabe. Porque não saber já é a própria negação. E eu sei.
Temos os nossos vícios e juramos que eles não irão nos matar. A gente se come e, antes que tudo seja apenas carnal, falamos das músicas que nos unem. Tudo parece um abraço quente e carinhoso, mas eu sei que o medo pode se esconder até nos gestos mais bonitos. Se a beleza disso tudo te assusta, digo que eu sou uma lutadora com mil causas para ganhar.
Toca a minha música preferida na nossa despedida e eu tento não pensar em você enquanto durmo. Meus sonhos intensos te envolvem em minha cama mesmo que você seja esse sujo, sujo cara de lugar nenhum. Não posso me esquecer: não pertencemos a lugar nenhum. Estou nessa como uma louca que rasgou na unha a casca do coração. Derrubei whiskey na garganta para sarar e torci para você ser uma ideia que passa depois da madrugada.
A gente se encontra de novo e sua mão logo está em meu joelho. Flores nascem em meu corpo e depois murcham. Aliso os lábios, olho para você; mais uma parte de mim esquenta. Tudo se acelera e nossos rostos se unem.
A luz da manhã chega e interrompe o disco tocando enquanto você ainda sente o gosto da minha pele e deseja que seja fácil. Fácil ir, fácil não sentir, fácil não ficar.
É do meu feitio aceitar os desafios. Você continua girando em minha mente, mas, por Deus, se você não sabe para onde ir eu vou sem você.


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