Elisa leu o e-mail ressabiada. Sabia que Laura já havia descoberto o que a vida queria ensiná-la. Embora professora de Filosofia, Elisa não se sentia com o "direito" de ensinar à amiga aquilo que ela não queria aprender. Por vezes, era dura e direta, causava reflexões em Laura, mas nada que a levasse a mudar seu comportamento. Entendia que Laura possuía o coração inflamado pelo desejo de "ser inteira" em tudo, correr riscos, amar sem medidas. Isso parecia bonito, mas insistir naquele amor deixava de ser bonito para ser apenas um jogo "teimoso", para provar que se pode. Ela era uma suicida amorosa. E Henrique, o homem perfeito para quem quer pular no abismo, por ser oco. E Laura não desistiria até saber se havia chão naquele pulo, se aquele homem tinha algo além do eco que ouvia de sua própria voz a gritar por ele. Ela precisava bater ao chão, se esfacelar, para se reconstruir. Ela era dessas intensas demais. Com uma coragem patológica para encarar a tristeza de frente. Laura era mulher de pontos finais.


Elisa era amiga de Laura há pouco tempo. Moravam em cidades diferentes, mas isso não impediu que se tornassem íntimas e confidentes. O ano era 2007. As obras do metrô de São Paulo mataram sete pessoas. Um assaltante arrastou uma criança por sete quilômetros numa fuga de carro. Frei Galvão foi canonizado. O Irã avançava no programa nuclear. A menina inglesa Madeleine desapareceu em Portugal e uma Ponte no Rio Mississipi desabou e deixou 13 mortos. Tudo alheio ao drama particular de Laura. Elisa estranhava esse distanciamento da amiga dos acontecimentos do mundo, dado que a conheceu militante e engajada socialmente. No entanto, nada mais parecia chamar a atenção de Laura a não ser Henrique. Esse era seu mundo, desde que ele retornou para a vida dela.

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